Marcel Giró


Exposições

Fotoclubismos. Barcelona – São Paulo. 1932-1964

Rocío Santa Cruz. Barcelona
04.03.2021 — 24.04.2021

Fala de montanhas, de exílio, de viagens artísticas e de olhares experimentais. Fala de migração. Também fala da passagem do tempo e da volatilidade da paisagem, dos vestígios que a fotografia deixa na pele da história.


A descoberta de fotografias inéditas de Marcel Giró (Badalona, 1912 - Barcelona, 2011) e Palmira Puig (Tàrrega, 1912 - Barcelona, 1978), aqui expostas, motivou uma revisão da sua obra. A investigação levou à descoberta de uma ligação artística entre diferentes centros fotográficos, dos quais Giró era membro. Por um lado, o Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB) em São Paulo e, por outro, o Centre Excursionista de Catalunya (CEC), dando origem ao núcleo conceptual desta exposição: o espírito fotoclubes.

Um fenómeno internacional que surgiu no final do século XIX, o fotoclube permitiu aos amantes da fotografia desenvolver a sua paixão em colectivos independentes, fora dos circuitos oficiais da arte e da academia. A relação histórica entre a fotografia e a paisagem reflecte-se nestes centros. Seguindo o cânone europeu, enraizado numa representação mais tradicional da natureza, os fotoclubes catalães utilizaram as suas máquinas fotográficas como mecanismos de documentação, capturando a beleza do ambiente natural.

Para os urbanos brasileiros, a fotografia não era um documento, mas uma obra de arte; a câmara, um artefacto de experimentação visual. As suas composições reflectiram a paisagem urbana do Brasil do pós-guerra, em plena expansão industrial e fervor arquitectónico, e encontraram nela um palco para abstracções geométricas e formas surrealistas.

Giró actua como um fio condutor através destes fenómenos artísticos. O seu trabalho é uma ligação entre territórios, entre arquivos. Começa na Catalunha do início da década de 1930, onde conheceu o fotógrafo Albert Oliveras i Folch (Uruguai, 1899 - Barcelona, 1989), também membro da CEC. A sua amizade é imortalizada em Marcel Giró amb esquís recolzat a una roca sota el coll d'Alba, um retrato que Oliveras i Folch tirou de Giró em 1935. Os seus caminhos separaram-se quando a Guerra Civil eclodiu. Giró trocou os Pirinéus por São Paulo, Oliveras i Folch pelos portos e avenidas de Buenos Aires.

No Brasil, Giró e Puig produziram um extenso trabalho fotográfico, muitas vezes em conjunto. A sua autoria está entrelaçada nos arquivos, que são difíceis de separar: muitas vezes partilharam o filme e distribuíram os negativos.

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Esta exposição coincide com a exposição Fotoclubismo. Brazilian Modernist Photography, 1946-1964 que o MoMA (Nova Iorque) abrirá em Maio de 2021. RocioSantaCruz trabalha com o trabalho de alguns dos membros mais proeminentes do FCCB, incluindo Germán Lorca (São Paulo, 1922), Rubens Teixeira Scavone (Itatiba, 1925 - São Paulo, 2007) e Eduardo Salvatore (São Paulo, 1914 - idem, 2006), para além de Giró e Puig, bem como a colecção Campañà. Este trabalho de investigação nos diferentes arquivos permitiu a RocioSantaCruz articular um eloquente e complexo corpus fotográfico, descobrir materiais inéditos e desenhar novas ligações entre artistas, tempos e espaços de criação.

A galeria estende agradecimentos especiais a Toni Monné Campañà, Toni Ricart, sobrinho de Marcel e Palmira e chefe da sua colecção artística, e Berenguer Vidal i Tello, director do Arxiu Fotogràfic del CEC, pelo seu envolvimento e ajuda ao longo deste projecto.




RocioSantaCruz